quinta-feira, 11 de junho de 2015

A Capital


Quando fores para a Casa do Machado de dois gumes
compres um cofre para o teu dinheiro
um esqueiro para o teu charuto
uma luva para tuas mãos
e saliva para tuas leis.
Compres também seis tamancos para os átrios do palácio
e um gentil, que referende teu nome
pelos mármores por onde porás os pés.
Entretanto, Homero, é vã Creta,
pois se todo tanto intento é tudo tido
quem viu a barra do vestido
de Helena?
Então façamos assim: esqueçais tudo e fujais,
ao paraíso dos neandertais e mórbidos colossos ferve
um caldo que relaxa o corpo
para os que compram o caldo que relaxa o corpo,
longe da espúria plebe, nas linhas de montagem da felicidade alheia.
Quero que esqueçais teu filho, teu seio, teu fértil fruto
os setores das iniciativas privadas
os financiamentos, a especulação, a propriedade
a balança comercial favorável, a diplomacia, o poder bélico
as prerrogativas de campanhas progressistas e o Estado de políticas públicas.
Somente suma, em suma durma.
Sem perder, sem sofrer, sem pertencer.
Autoantropofágico, antropocênico, antropocêntrico.
Egoísta, antisincretista, sadomasoquista.
Para nascer e viver e morrer
na esquina das responsabilidades e cruzamentos de uma revolução caótica
Basta ser
E não ser.
Inútil ser.

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