terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Pêndulo

O pêndulo gemendo a traqueia invade
E faz-me mais covarde
Mesmo coragem abrangendo
Aqui.

Lá, tudo no quadro
É o poema em orvalho retratado:
Talhado
Sofrido
Julgado
Enganado
Não lido
Renegado,
Pelo seu ator amado. Entendido!

Os vivos não trazem a sorte pra perto,
Aqui.
Os vivos só fazem a morte, contínua,
Sorrir!
“Penso”, o peso propenso é o pêndulo: (para isso)
O peso
Propenso
É o pêndulo!
“E sim, breve existo.”

O coração de carbono

O abismo se aproximando...
Meu pensar, imaginar, vindo...
Vais tu, ó são peito, atropelando
E o carvão se acabando
Na ponta do lápis torto.

É o final: mira o chão!
A chantagem que vem me fazer morto.
Só corto as ligas da aflição
E seduz pular na boca do abismo.

Ah! Quão é mal morte ao coração
Que já é tudo o que me restou
Que me escala o diafragma
E que explode os meus pulmões,
Expelida! Expurgada!
É a fibra condenada
É o tudo que me restou...
Suspiro...escarro...ao abismo
Saltou.

Corredor

No corredor de corpos não passa nada.
Não passa nada no corredor!
Imenso...vazio imenso no corredor
Que não, já não passa nada.

Passa o vento no corredor
E um vulto a só procurando
Quem sabe, outro vulto, no corredor.

As luzes repentinamente se apagam no teto do corredor
Como se isso apagasse a imagem
De quem um dia lá passou,
Pisando seus frios mármores a sós.

A imagem vibra no fundo do corredor,
É só miragem das frações das vidas
Ou são só as danças das sombras...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

À estrela

                                                                                Sugestão de trilha sonorahttps://www.youtube.com/watch?v=k1-TrAvp_xs

Além para as nuvens colhi meu amor
no leito celeste de cor a brunir;
repouses, pois saibas que irei te seguir
sendo para ti no inverno uma flor!

Prometo-lhe amar por só bastar sentir,
sussurro-te e arranco do peito o fulgor
que em dois corações se demonstram maior,
maior se seriam se amarem se unir.

Nascestes dos céus contornando o instinto
selvagens, implícito em meu peito e hei
de ser novo homem contigo, e não minto!

Ou morro sozinho e ao céus subirei
mudando palavras num sonho onde sinto
saudades do beijo que lá lha darei.

Morro feliz

As crianças descem na noite a peça
para compor o labor do dia
para fazer a venda,
Os sacos que pesam sobre o sono
são os sonhos dos mulatos recobrados,
é a alma que transcende da gente!

Há de se admirar o povo
que é homem mais que o homem e não simples
pois que tudo se atraca em sua vida.
Em sua vida tudo é tarde, por exemplo,
e o exemplo que lhe cobra a tudo arde
arde a jornada comprida.

As crianças do gueto nunca dormem
sonham sonhos sob sonhos
e os sonhos são as sínteses que sobram
do silêncio de uma imagem de quem dorme.

Os pretos não comem.
Param o ponto no expediente
pensam, não pensam, padecem poentes
parecem pacatos pobres, e o preto não come.

Simultaneamente morre,
no momento presente,
o ser daquele que pulou longe
da encruzilhada favela.
Lá, quem vem na ginga é só quem morde
as rédeas de zinco e ladeira
e passa fome.

A moça equilibrista guarda o morro
modela a paz no canto
E as crianças vivem melhor.
O suor da preta escorre pela pedra
no rosto que remoça o medo,
o escuro manto,
a chuva deixa densa relva...

No dia de São Jorge a alegria!
ávido nasce no côncavo o povo da favela,
o morro acende as luzes e ascende
O samba!
O preto larga suas chagas
a moça pões a saia estampada
as crianças sonham de brincar...
E desafia-se intrépido a lua
que se vai, na cadência da cintura,
em cordões de estrelas cósmicas, pequenas:
Pequenas aos olhos do morro!

A vivenda da gente que não é simples
é torpor e torpor e sorriso.
É o santo que escala as pedras, sobe a viela e bate panelas
para alimentar as bocas famintas.
É o ciso que reclama o terno direito
que exclama no peito de Ogum, com clavas ocas,
pela saúde do pretinho que dorme.

Retrocesso

                                                                               Sugestão de trilha sonora https://www.youtube.com/watch?v=8k41D9por6c

Aos pontos tortos remimos
rumo à nossas dores todas
e para tudo o que vimos,
(daquilo que somos nós)
voltamos à terra de nossos avós
voltamos à guerra.

Amigos indispostos, supostas sequelas
à dilaceração do ameno amor
pelas batidas do coração,
o retrato da dor em vão
o arrependimento...

Quando voltarmos sobreviveremos
do pó de nossas estradas
do nada, que a mais seremos.

E, se ainda em vias atreladas
ingrata à descontínua foz de sermos,
será nada a beleza floreada.

À morte das sutilezas
regressaremos justapostos, senhores,
à mão coesa!

Da adolescência o langor e discrepância
pelo tempo a arrogância
e o pedantismo das certezas.

Vê-se que se cresce, enquanto morre
o menino que em mim dorme,
o gume que me lesa;
Do amor que ele leva
pétalas se escorrem
Com o vento que tudo some...

Vê-se que se mata enquanto é homem
no mundo das mortalhas magníficas
e dos fados e dos fardos dos covardes,
De um tango antropofágico
para os que se comem.

Os cacos

                                                                                Sugestão de trilha sonorahttps://www.youtube.com/watch?v=SRmCEGHt-Qk

Saltavam, dançando o desespero da morte
logo àquele momento prestes a esperança por vir,
veio nada.

Não vi amor,
as queixas de saudade
amálgamas da paz,
que a todos que não merecem contrai
desatinou-me completo pela noite a lembrança...

Num vórtice catatônico de ideias
desceu-me as contradições da vida:
A alma rasgada é perfeita,
embora ferida;
A linha do tempo é estreita,
embora comprida;
O sonho é a história não feita
embora já tida.

O saprófago me corteja ao sarcófago
e me leio:
Homicida.

Ao meu destino

                                                                                Sugestão de trilha sonorahttps://www.youtube.com/watch?v=3G4NKzmfC-Q

Escrito está com novos traços
a fiadura de meus passos
a minha cura.

Rolava no ar, alçando compacta
os pés pelo chão e fátua
tornou-se escura.

Assídua se acanhou nas horas
perplexa a maga senhora
disléxica continua...

Seu som não retumbou no vento,
sua alma não teve o unguento
que mora morrendo na rua.

Lhe vejo que está só e aflita
seu senso, contudo, me fita
contido na sua.

Às vezes a encontro tão cálida
em ares de quem se quer pálida
morando na Lua!

Faz, que te faço mais e e alegro,
integre-me que lhe entrego
um beijo na boca tua!

E cai-lhe tão bem teu caminho,
tu, que embora o tenhas sozinho,
poética perpetua.

Que tenhas sozinho ele enfim
conquanto que tenhas em mim
o leito cujo amor flua.

Porque desejo

                                                                             Sugestão de trilha sonorahttps://www.youtube.com/watch?v=VbxgYlcNxE8

Desejamos,
que grande maldade que somos.
No silêncio da madrugada.
No silêncio da natureza.
No silêncio não somos nada
que pareça a parte do silêncio.

Se somos mais que silêncio
do preceder de gritos,
de sentir a mortalha,
não somos feitos de não feitos
mas feitos somente quadros queimados, por todos os lados,
por sopro de vida e poeira:
Pó para os meus desejos!

A maldade de ser, pois de ser
maldade porque
queria o sopro me ter maldade,
Por ter a parte de toda bem
o atino para a vida em som,
roubar da natureza o tom
roubo muito bem...

Desejo-lhe ter maldade
e a onda elevar teu posto
trinta mil anos após
de desejar um beijo para havermos
de ser mais que o mau silêncio, sentimento
Desejemos.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Via crucis

                                                                      Sugestão de trilha sonorahttps://www.youtube.com/watch?v=aCFnzSCzoYA

Na cidade se integra lixo:
canteiros aterrados,
surpreendentes furtos
sorrisos curtos,
medo fixo.

Dentro do meu quarto e o progresso tecnológico
um ser escatológico
se engendra.

Recrudescendo
aos poucos vai meu sentimento
pelos pés da multidão ornamentada
e irizado um câncer na alma, pela maligna ira
que um cão velou soldado, meu sufoco, ainda respira.
E no raso escuro de toda a treva
um grito que vara o horizonte,
subserviente Anacreonte,
arpoa Eva.

Aos poetas que contemplam estrelas de um céu inóspito
morrerão, desnudos diante à noite,
pois que o dia é um raio açoite
a prorrompe-las...
Pois que sozinhos - os anticristos -
manifestos na rua vaga
Tão calados e distantes sobretudo.
Sem nenhuma chance.