terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

À estrela

                                                                                Sugestão de trilha sonorahttps://www.youtube.com/watch?v=k1-TrAvp_xs

Além para as nuvens colhi meu amor
no leito celeste de cor a brunir;
repouses, pois saibas que irei te seguir
sendo para ti no inverno uma flor!

Prometo-lhe amar por só bastar sentir,
sussurro-te e arranco do peito o fulgor
que em dois corações se demonstram maior,
maior se seriam se amarem se unir.

Nascestes dos céus contornando o instinto
selvagens, implícito em meu peito e hei
de ser novo homem contigo, e não minto!

Ou morro sozinho e ao céus subirei
mudando palavras num sonho onde sinto
saudades do beijo que lá lha darei.

Morro feliz

As crianças descem na noite a peça
para compor o labor do dia
para fazer a venda,
Os sacos que pesam sobre o sono
são os sonhos dos mulatos recobrados,
é a alma que transcende da gente!

Há de se admirar o povo
que é homem mais que o homem e não simples
pois que tudo se atraca em sua vida.
Em sua vida tudo é tarde, por exemplo,
e o exemplo que lhe cobra a tudo arde
arde a jornada comprida.

As crianças do gueto nunca dormem
sonham sonhos sob sonhos
e os sonhos são as sínteses que sobram
do silêncio de uma imagem de quem dorme.

Os pretos não comem.
Param o ponto no expediente
pensam, não pensam, padecem poentes
parecem pacatos pobres, e o preto não come.

Simultaneamente morre,
no momento presente,
o ser daquele que pulou longe
da encruzilhada favela.
Lá, quem vem na ginga é só quem morde
as rédeas de zinco e ladeira
e passa fome.

A moça equilibrista guarda o morro
modela a paz no canto
E as crianças vivem melhor.
O suor da preta escorre pela pedra
no rosto que remoça o medo,
o escuro manto,
a chuva deixa densa relva...

No dia de São Jorge a alegria!
ávido nasce no côncavo o povo da favela,
o morro acende as luzes e ascende
O samba!
O preto larga suas chagas
a moça pões a saia estampada
as crianças sonham de brincar...
E desafia-se intrépido a lua
que se vai, na cadência da cintura,
em cordões de estrelas cósmicas, pequenas:
Pequenas aos olhos do morro!

A vivenda da gente que não é simples
é torpor e torpor e sorriso.
É o santo que escala as pedras, sobe a viela e bate panelas
para alimentar as bocas famintas.
É o ciso que reclama o terno direito
que exclama no peito de Ogum, com clavas ocas,
pela saúde do pretinho que dorme.

Retrocesso

                                                                               Sugestão de trilha sonora https://www.youtube.com/watch?v=8k41D9por6c

Aos pontos tortos remimos
rumo à nossas dores todas
e para tudo o que vimos,
(daquilo que somos nós)
voltamos à terra de nossos avós
voltamos à guerra.

Amigos indispostos, supostas sequelas
à dilaceração do ameno amor
pelas batidas do coração,
o retrato da dor em vão
o arrependimento...

Quando voltarmos sobreviveremos
do pó de nossas estradas
do nada, que a mais seremos.

E, se ainda em vias atreladas
ingrata à descontínua foz de sermos,
será nada a beleza floreada.

À morte das sutilezas
regressaremos justapostos, senhores,
à mão coesa!

Da adolescência o langor e discrepância
pelo tempo a arrogância
e o pedantismo das certezas.

Vê-se que se cresce, enquanto morre
o menino que em mim dorme,
o gume que me lesa;
Do amor que ele leva
pétalas se escorrem
Com o vento que tudo some...

Vê-se que se mata enquanto é homem
no mundo das mortalhas magníficas
e dos fados e dos fardos dos covardes,
De um tango antropofágico
para os que se comem.

Os cacos

                                                                                Sugestão de trilha sonorahttps://www.youtube.com/watch?v=SRmCEGHt-Qk

Saltavam, dançando o desespero da morte
logo àquele momento prestes a esperança por vir,
veio nada.

Não vi amor,
as queixas de saudade
amálgamas da paz,
que a todos que não merecem contrai
desatinou-me completo pela noite a lembrança...

Num vórtice catatônico de ideias
desceu-me as contradições da vida:
A alma rasgada é perfeita,
embora ferida;
A linha do tempo é estreita,
embora comprida;
O sonho é a história não feita
embora já tida.

O saprófago me corteja ao sarcófago
e me leio:
Homicida.

Ao meu destino

                                                                                Sugestão de trilha sonorahttps://www.youtube.com/watch?v=3G4NKzmfC-Q

Escrito está com novos traços
a fiadura de meus passos
a minha cura.

Rolava no ar, alçando compacta
os pés pelo chão e fátua
tornou-se escura.

Assídua se acanhou nas horas
perplexa a maga senhora
disléxica continua...

Seu som não retumbou no vento,
sua alma não teve o unguento
que mora morrendo na rua.

Lhe vejo que está só e aflita
seu senso, contudo, me fita
contido na sua.

Às vezes a encontro tão cálida
em ares de quem se quer pálida
morando na Lua!

Faz, que te faço mais e e alegro,
integre-me que lhe entrego
um beijo na boca tua!

E cai-lhe tão bem teu caminho,
tu, que embora o tenhas sozinho,
poética perpetua.

Que tenhas sozinho ele enfim
conquanto que tenhas em mim
o leito cujo amor flua.

Porque desejo

                                                                             Sugestão de trilha sonorahttps://www.youtube.com/watch?v=VbxgYlcNxE8

Desejamos,
que grande maldade que somos.
No silêncio da madrugada.
No silêncio da natureza.
No silêncio não somos nada
que pareça a parte do silêncio.

Se somos mais que silêncio
do preceder de gritos,
de sentir a mortalha,
não somos feitos de não feitos
mas feitos somente quadros queimados, por todos os lados,
por sopro de vida e poeira:
Pó para os meus desejos!

A maldade de ser, pois de ser
maldade porque
queria o sopro me ter maldade,
Por ter a parte de toda bem
o atino para a vida em som,
roubar da natureza o tom
roubo muito bem...

Desejo-lhe ter maldade
e a onda elevar teu posto
trinta mil anos após
de desejar um beijo para havermos
de ser mais que o mau silêncio, sentimento
Desejemos.