segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Tragédia

As emoções não iam bem àquela noite. Ele, sentado no banco do camarim, com as pernas cruzadas formando um triângulo minuciosamente geométrico, lhe custando à postura, o qual, em seus pensamentos desvairados de pormenores erros. O desgosto o clamava austero e um copo entornava afoito. De fato, o suor tingia a maquilagem ainda que perfeitamente elogiável... Ora, o sangue de artista corria mesmo em suas veias! Seu passado glorioso o inflava de sagacidade e, como sempre, estruturava-se filiformemente um anseio pelo povo. Mas algo o mudara recentemente, sentia arrastada a vontade e ao sentimento surgia profundo o desejo de saltar. O espasmo tingiu-lhe por derradeiro e assim se foi meio copo. Ardente desceu-lhe a garganta e a saliva não era mais água, seu corpo não era mais pó; o triângulo contorceu-se em viravoltas sopitando o homem altruísta, mas como lhe ardia à garganta! Rodopiou, nos vórtices coloridos de um paralelismo simétrico, rasgava a rotina, abria e fechava os olhos ao ritmo do tango que se fazia ouvir dos palcos. Estirou sua cama num celeste pálio, colheu das nuvens o fruto e flutuava, até então, sob um chão movediço de felicidade. Aos poucos brotavam risos descompromissados provenientes do que se podia ouvir da plateia, era livre, pois que de tanto engastou seu último gole, para o líquido com ele respirar... Um, dois, um, dois... Ao passo que engendrava um lar à encosta pelo topo de uma palmeira, logo acima do Sol, com tábuas e cordas e as fibras mais densas do seu coração... Um, dois, um, dois, um, dois... Fluía então, voava, saltava distante enfim! À altura pela vista do bosque que arquitetara lhe era tangível um arco ponteando a noite com Deus e o éter entre um imenso abismo. Pois não hesitou, findou-se a haurida harpa dos acordes badalados logo que forjada fora a lembrança de sua senda; espirituosamente acariciou a ave que sempre lhe acompanhara pelo modo como desatou a gota dos olhos, os pés se despediram do chão e cálida a garganta rompeu-se em nó, a cortina se abriu.

Os tecidos de Pandora

                                                                                 Sugestão de trilha sonorahttps://www.youtube.com/watch?v=GGU1P6lBW6Q

Uma luz para que hibernem
os rudimentos lúgubres.

Para que todos governem
Os prados utopicamente breves,
Que ao dobrar em ti meus olhos
uma síntese semiótica
Suplante fragmentos meus
e lapide o modo hostil
e o fruto crítico rompa
Pela negrura do teu corpo.

Um ósculo abstrato troco
contigo e no sono
a insônia instigo
No crânio oco.

Carne é rocha e estigma,
o raio sigma a liga
A fraturas e fraudulências.
São mágoas, do que lembras
do cântico dos horrores,
arquetípicos amores,
pois não pensas.

Feridos acres não suturam
por píleas pragas o predando
à metonímia do ébrio dando
álcool à minha mente.

Cínico bardos, escárnios
despudorados, feixes...
Imageticamente sinto,
picturalmente penso,
O pixel aparentemente enche
me sentimentalismo!

A fome é vasão
A vida é morte
O torque é um grilhão.

Amamentar a praga
Para que cresça ao peito altivo
em morgue do coração
é célere objetivo.

Contamina a palma, a atriz,
a linha do tempo curva
Elabora o medo n'alma,
confina a réstia minha
A carestia que exala
da retina dada ao dia.

Minha amada musa mata
laços por seus encantos
Tornando estáticos bandos
nos filamentos peristálticos
usurpando-os.
E nunca revoga paliativo efeito
Programado para, automaticamente,
conjugar náusea ao ente
epistemológico prelo.

No preventório das multidões
perfilam-se corpos
Um grão é o esforço
das revoluções,
o click é remorso.

Voluptuosa luz, fragorosa!
Espúrio intelecto
Virtual matrimônio
Estéril útero septo,
Teatro intrépido
Vampiro mórbido.

Que enche a Lua fria
de mais solidão ainda
alumiando as salas.

Nenhum mundo move se, enfim,
custe a pejar prostrado
perante as torres de marfim,
da nau dos naufragados.

A felicidade em mim
demanda morrer carmim
pelo pulso acorrentado,
Devendo amplo cuidado
Às armas organizadas
Ao senso contaminado
Aos vermes do alastrim.

Para que sempre minha estrada
estática, embora ainda
cálida, não finda,
Seja contigo nada.

Para que o bravo seio
Adormeça, ao enleio
do ópio e da chama
alienada.

Sarmassofobia II

Inflamado o peito mau amor clama
Dentre as náuseas por o sentires breve
ao toque, extirpar da chama a que escreve
Langores com a tinta córea, dama.

Do que oneras, desfiar-se-ão tumores
que pela vida transparecendo sórdidos
Lembrar-te-ão os desejos mórbidos
mas não cruel quanto a dor de amores.

Quando no vão torpor romperes a alma
Um anjo ressequido pela treva
Lhe estenderá pútrida palma.

Pela mortalha que sôfrego leva
ao peito por hausto a hasta em trauma
Tu poderás nada quão deva.

Ao esgoto


                                                                      A Augusto dos Anjos, com toda humildade

E nessa ocasião o horário já se foi.
Mais uma vez este vem à podridão
A qual rasga n’água e gasta-me a solidão
De todo esgoto que espera o que há de vir.
                        
Sorrir? A que doçura devo sorrir?
Se já se torna fétida água em lama,
Consola-me, o verme que desse emana,
Mas eu quero entrar e, todos, sair...
                        
E que falha desse poderia surgir?
Se esse verme a mim, no contemplo, sorrira
Se tal real relação nunca há de existir?
                        
Com quais males de lamentos me trairia?
Se acima a constância da dor hei de ouvir,
Mas com tu, verme, a natura alegria?

Cançãozinha

Se um pássaro passasse
Carregando uma flor,
E pousasse no Sol a se pôr
No poente de um enlace,
Talvez de ti gostasse
Mas, seja como for,
Não há melhor amor
Que um amor que se cace!
            
Sim, no orgulho te quereria
Do bico do pássaro, o cantor,
Quereria pois nua flor
Para enfeitar-te à poesia.
Quereria pouca magia
Para pensar no que compor:
Se um soneto de amor
Ou o amor que me espia.

Em decomposição

Hoje passei a mão nos olhos
E tentei arrancar uma gota
De água de lágrima morta
Dos choros dos tempos velhos. Falhei.

Como mais uns, os piolhos,
Bactérias, platelmintos em minha artéria entram,
Na vagarosidade, meu sangue esquentam,
E os vermes nos meus espelhos.
            
Para decompor a ira da destilação
Prefiro que queime o ridículo fundo
E todas as células do coração.
            
Esse, que me compreende como moribundo
Nas veras batidas da poluição
Dos putrefatos d’onde sou oriundo.

Sequiosa City

Socorram meus lamentos,
um irmão caiu no córrego
de seu próprio Ego
Colhendo sustentos.

Seus destroços carrego
Por entre os unguentos
E os quatro ventos,
Ainda que sôfrego.

Serenos corpos são lentos
Eu temo meu sossego
Enquanto que ermo não nego
válidos movimentos.

São Paulo faz morcego
e cortes purulentos,
lares bolorentos
quimeras que descarrego.

Se aqui há saneamentos
Com tratos e a pulso prego,
Àquilo a que não nego:
Água dos sangrentos!

Somos todo desapego,
E tantos intentos
de estarmos bentos,
eu continuo cego...

Sabemos da morte aos centos
Sabemos se me alego
genocida ou se pelego
dos policiamentos.

Sorrimos se há arrego
dos salários, dos aumentos,
das baixas dos mantimentos
de mim, que lá não chego.

Sinistros momentos
num prisco bárbaro grego,
me encontre que lhe pego
à falange dos violentos.

Sequiosa City, a entrego
Um filho aos ressequimentos
de alma e quaisquer alentos
e segrego.

Assunção do espaço breve

Preciso de coisas belas
Porque vivo, e tanto me sorvo,
Como num pacto doloroso
em que não há remorso, e o gozo
provém de a tudo provar.

É necessário desejar  todos os dias à Lua
Um galáctico espelho
Reflexor da alma.
Correr no mato ao cântico altivo
na busca do ser lascivo
de incognoscível gênero.

Despertar a loucura no ato
Despudoradamente ao crivo
Dos inocentes pasmos,
Religando a Lua à fonte
Copiando o sábio.

O amor é um olho na noite
homólogo e sinestésico
cético, a caçar o Sol.

Ilusões de Pravda

Cientificismo, três mortos
Voltearam dilacerados aos quatro cantos,
Setecentos e sessenta mil corpos
no sexo geográfico,
Dos porcos torturados, tortos,
um pardo imigra
ao tráfico.
Encare o choro, mãe,
Pregue os pulsos, que embarcam eles
Antes que a plácida usurpem...
Um cântico nobre não se cede
dos seios da paz.
Não coube a vírgula ao furor:
Setecentos e sessenta mil corpos
de algo que pensa,
“contabilizam-se as crianças”
politicamente , calcula a bancarrota, um foguete
“quatrocentos e trinta e oito”
Lançar-se-ão ao mar de abertos braços
a estocar a fúria mãe!
A dança do mundo avesso
Endereça os endereços
Capitalizando-os
Numa bomba no jornal
Como a bala perdida,
Terrorismo dos trejeitos
Do preto mau.
Eu sou caos. 

Amaldiçoada morte

                                                                                 Sugestão de trilha sonora: https://www.youtube.com/watch?v=iW71-sVyMzM

Ó morte, quanto és linda!
Linda tanto que ainda
pouco é meu todo canto.
Morte, que tu és o enlace
tu és o disfarce
o ofídio manto,
que vestes o passo
que mata o romance
do átrio de um santo.

Ó morte, se toda a sorte já lhe convém
Desfavorecido me encontro a esmo
às custas do que detém:
eu mesmo.

A morte, escarro escuro,
um vão impuro e lépida dor
equilibrada no apuro
De dar suor!

A morte, um rente corte
No raso da carne!
Um lúteo inerme,
uma epiderme à faca em porte.

A morte é nosso horizonte
tão perto quão tão distante
de nós, mas longe
da consciência.

Morte que vem assídua
no auge da eficiência:
completa inimiga
convexa pungência
na cálida fibra,
a madura essência!

Ó amiga morte, o canto alarda
por vires lucrar
errante eloquência,
inebriar a alma!

Do luto
tanto é dual
como comuto,
tu que devoras,
deveras,
futuras auroras
de um peito astuto.
Tu, que permeias
pelas minhas veias
sofre consigo,
sobretudo.

Que a pena do tempo então vague
e cesse, por fim, num soneto
coroando a morte ao terceto,
como a dama fúnebre.

Que vague a morte pelo tempo
por fim, num soneto que finde
as súcias do que prescinde
cuidar que o ciclo se quebre.

O poeta escafandrista

Para o fundo, imergindo em águas
Cautelosamente escrevo louco
Engrenando o enigma obtuso;
Vejo que também vi, confuso,
Protuberâncias inextricáveis.
            
Os ossos da mão são coisas palpáveis
E os homens desagradáveis,
De seu uso tenho só o uso
De experiências ineficazes.
Mas se escrevo sinceramente
Me percebo tal como o ente
Social dos insociáveis:
Com o ar puro do sentimento
Me visito solenemente!
            
Como, pois, pode aí ter
Existência do que é não ser
Substância, como é o osso,
E vagar com o que é sofrer
Soçobrando-me ao prorromper
De espreitar paixão que não posso?
            
Visitar-me implica-me mais
Forte esforço de meu trabalho
E braçadas vitruviais
Espelhando o celeste pálio,
Ressoar-se-á levemente
Na palavra proveniente
O fulgor dos meus ancestrais!
            
E expulso, serenamente
Presto, o ente que de repente
Crava as garras em meus umbrais
Que, na angústia eternamente,
Vive às velas do inconsequente
Leitor que não virá jamais.
            
Posso então ressurgir do fundo
Tendo em mãos liras cordiais
È paciência que fita o mundo
E tocar como se apraz
Ao humano ineficaz,
E pensar que mudarei tudo...
            
Triste sou dos mais tristes mas
Libertado por poesia!
E me afogo, como dizia,
Em pensamentos desiguais,
[pois sustento a emoção singela
De me ater e atracar-me nela
Indo a dentro em mim p’ra não mais.

A dificuldade que me para

Sentimento, não firamos
A casca uma do teu crescer,
Qual trasgo homem:
“A noumenalidade no não ser”,
A lâmina a qual damos tal respeito.
            
O sono no contorno do indireto
Despertar voraz ataca o peito, carcaça incrustada,
E a regra é afaça
Cega.
            
É a linha da palma
que desintegra
o processo da ação psicológica,
o ensaio natural psicopata.
            
Da imobilidade se tatua
A morte preta revés nua
De esperanças clorofiladas.
            
Vem saltando na descida da escada:
- O homem é nada!
O homem é nada
Mais breve que a vida tua.
           
No roteiro da Lua há segredo
Da vida que escolhe o enredo
Da alma que continua.
            
A composição da poesia
É convicção da agonia
Que o homem apenas atua.

Pré-apocalíptico

Intrínseca volúpia
Infame! Que d’outros prodígios derrame
As cascas de cera, que havia
Dor no sobrepor do dia
Que nascemos p’ro confronto.
            
Os tempos redentos veem
A veia do sábio saltando
E vão só surrupiando
Aos que me leem.
            
Do Carma à fronde hermética
Dos frios calares possantes
Banhei-me, com a dialética
Do mouro, do algoz, do errante,
Pois tão praguejo essa vã cisma
Do raio que explode o prisma
Do habilidoso estudante.
            
Diácono, não sede fraco
Qual trato o peito pedante,
Que vejo maligna à fronte
Os troques dos floreados
Largando os acuados
Na senda, a fenda assombrada
Meados antepassados.
            
Forrada a fama desfigura
Da lama ao estopim, agora
Namora as trombetas do féu
Palato, motriz deste céu
Quebrado, reconfigura.
            
A ti teu flanco à rés doçura!
Rasguei infernos e seus umbrais
De largas percas, acres astrais...
O cancro espanco da tua sutura!
            
Mas transeunte me entendo mais
Moribundo que gostaria
É que o músculo atroz desfia
Arrecadando o que lá contenho,
O sangue rubro que em engenho engendro
E a dialética do alaúde,
Vão-se eles todos com minha saúde
Deixam-me morto, mais mortos sendo.
           
E vou morrendo e me vou morrendo
A dor doendo e a dor doendo
Na armada espada estacada e soa
Meu suspiro amargurado,
Que, deveras assassinado,
Prolixo, o ente do peito perdoa.

O espantalho e o demagogo

O simpósio tardou e foi caro
O ingresso
O otimismo.
            
Ontem me espantei à noite
Oriunda do dia;
O sono pré-estabelece o que antes era.
            
Ontem clareou, dicendi
O homem do dia na rua:
Osteoporose, pneumonia e esquizofrenia.
            
Olhe o homem que beija
Os lábios da noite e deixa
O que dista distantemente.
            
Olha lá atrás, que tarda
O bicho, convicto vem
O dinheiro na mão.
            
O homem comendo uma rato
Onde todos usam sapato
O tempo escolhe o que é...
            
Os bêbados riem da morte
Ostentam perigo e sorte
Ornada ao falecer em pé.

O homem quietamente inquieto

                                                                                 Sugestão de trilha sonorahttps://www.youtube.com/watch?v=asPsKy4AjAo

E ele provou tantos ventos...
Rasgando os sedentos lábios que estão
A espera se vão perseguindo na dor,
Confluindo suas recordações...
            
Que foi visitar tantos lares
Colhendo lugares para tua pintura?
E via em cada torto pranto
O quanto foi enquanto
Prendia a alma
pura.
            
Mostrou-se a felicidade e foi
Tanta a coragem
 De sua aventura!
Amar a mulher da cidade,
Com fiel castidade,
Sugar amargura.
            
Há vozes
                          Dizendo
            Dizendo luxúrias
                                              Gemendo
   “Eu toda
                           Sou
                                                                      Tua!”
            
Repletas de desejo ardente
Despertando a febre
No
Nu e
Na
Nua.
            
E passas, no dia seguinte
Bolando loucuras
No meio
 Da rua

            
E vês, pois, por conseguinte
Um homem
Distante
Com ela
E a lua.
            
Intriga-te a paz do matiz...
Chorando sorris a andar
Continua:
Um passo
Sobrepondo
Um passo
Deparas escasso:
                                   Criador, criatura.
           
E esta lhe diz lentamente
O quanto és o ente
Mais abandonado.
Embarca atracado com vento
pela a Solidão,
Cuspindo-te
ao
 lado.

Desgraçada saúde pública

Você viu o médico?
Torto e coagido
É falso e pervertido
Julgando alheia a imperfeição.
            
Traz desgraça aos olhos lá
Que seduzem um auxílio,
É o lírio, o pranto, o lírio
Dos seus prantos a rolar.        

Bruta fora a sentença abrupta,
E o que lhe retornará?
Sofrendo desprezará
Sua profissão, indigno.
            
A alma negra é a alma maligna
Revestida de flor branca,
Ritmando solavanca
Nos corações um estigma,
E o enigma ele estanca.
            
O médico preferido
Torto, no umbral perdido
Não semeia a semente.
          
Nas chagas da rés doente
Minimiza, simplesmente,
A dor do amor não tido.

Passe Livre II

À penúria vocês, malditos,
Que foram forjando suas almas
Na chama da falsidade!
Um covarde como eu não poderia
Implantar-lhes o órgão loreal.
            
Logo eu, escravo livre
Que consente a dor do povo,
Eu que nunca desfiei meu pranto em teus colos
Não preciso os suportar!
Em minhas costas basta a melancolia
De Carlos Drummond de Andrade.
            
O inconformismo me visitou
E a frieza de minhas garras,
As que imploram a presa
Nesses tempos famintos.
Nada mais tenho:
Minha infância diluída, vossa vontade por soçobros e amargura, o refutar do Romantismo,
Só o silêncio me apavora
E esse espasmo libertino...
E eu, que não sou eu nem Carlos Drummond de Andrade.

Duras letras
Todas passarão no corredor que oferta
As alegrias, as tristezas;
Vai ficar onde já está a militância morta.
            
Vai ficar nos postos de saúde,
Brotar no prato de comida do menino pobre
Que passa em minha calçada.
Do homem vão só passar desgraças e falsidades.
Do baú oco se enferruja o tesouro,
E vai passar o tanque de guerra.
            
Se à noite cintilam poemas
Devem não ser de poetas
Do mundo, que me viu nascer no dia onze de maio de mil novecentos e noventa e cinco,
Devem não ser.
Reclamações fluem ao decoro dos risos,
As bandeiras repercutem pelos campos de sangue,
A terra é negra e o homem passa contornando o corredor,
Passam os mortos angustiados do paraíso
Nos fragmento das selvas de concreto.
            
Cantaremos?
Ora, ao que se vai e vai
Pulsando por nós!
Eu finjo e nada mais, e tudo sou e também cego,
Sou massa e vivo da aorta
Não sou nada aparentemente posto no busto de decomposição de Carlos Drummond de [Andrade.

Passe Livre I

Há tempos eu vi o prefeito
No pódio de sua eleição
Vira para as caras e encara
A face da população,
Nas boas novas da ascensão
Escarras sintaxe, escarra
Promessas de perfeição.
            
Um mês, foi um mês
E mais um
E outro depois,
Depois outro...
O mantra político escroto
Relevará fácil mais três!
            
Na morte sutil do mandato
Findou-se aquele hibernar
Desfilando,  tal como um santo,
Por entre o povo a esperar
Que ele intervenha assíduo
Na vida do indivíduo
Que já também vai a minguar.
            
O homem espera sorrindo
O outro, igual, para lutar,
Pois ele não quer desfrutar
Da vida desmilinguido;
O homem é o próprio Senado:
À toa, tolo e truncado,
Malandro que segue a corrente.
            
E o jovem é pleno doente
Perpétuo, tal como é o ente
Prefeito, inanimado.
            
Coitado do povo, coitado
Do resto da vida da gente...
Coitado do inconsequente
Cidadão do voto intrincado.
Coitado do povo inocente
Que era somente a semente
E tornou-se sedimentado.
            
O fim da história é um fado
Tocado entre as praias serenas,
Meu pai viveu com meus problemas
E eu sou do povo coitado,
Perdendo-me vou membro a membro
No prato que soma dezembro
Com risos do povo, coitado.