As emoções não iam bem àquela noite.
Ele, sentado no banco do camarim, com as pernas cruzadas formando um triângulo
minuciosamente geométrico, lhe custando à postura, o qual, em seus pensamentos
desvairados de pormenores erros. O desgosto o clamava austero e um copo
entornava afoito. De fato, o suor tingia a maquilagem ainda que perfeitamente
elogiável... Ora, o sangue de artista corria mesmo em suas veias! Seu passado
glorioso o inflava de sagacidade e, como sempre, estruturava-se filiformemente
um anseio pelo povo. Mas algo o mudara recentemente, sentia arrastada a vontade
e ao sentimento surgia profundo o desejo de saltar. O espasmo tingiu-lhe por
derradeiro e assim se foi meio copo. Ardente desceu-lhe a garganta e a saliva
não era mais água, seu corpo não era mais pó; o triângulo contorceu-se em
viravoltas sopitando o homem altruísta, mas como lhe ardia à garganta! Rodopiou,
nos vórtices coloridos de um paralelismo simétrico, rasgava a rotina, abria e
fechava os olhos ao ritmo do tango que se fazia ouvir dos palcos. Estirou sua
cama num celeste pálio, colheu das nuvens o fruto e flutuava, até então, sob um
chão movediço de felicidade. Aos poucos brotavam risos descompromissados
provenientes do que se podia ouvir da plateia, era livre, pois que de tanto engastou
seu último gole, para o líquido com ele respirar... Um, dois, um, dois... Ao
passo que engendrava um lar à encosta pelo topo de uma palmeira, logo acima do
Sol, com tábuas e cordas e as fibras mais densas do seu coração... Um, dois,
um, dois, um, dois... Fluía então, voava, saltava distante enfim! À altura pela
vista do bosque que arquitetara lhe era tangível um arco ponteando a noite com
Deus e o éter entre um imenso abismo. Pois não hesitou, findou-se a haurida
harpa dos acordes badalados logo que forjada fora a lembrança de sua senda;
espirituosamente acariciou a ave que sempre lhe acompanhara pelo modo como
desatou a gota dos olhos, os pés se despediram do chão e cálida a garganta
rompeu-se em nó, a cortina se abriu.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
Os tecidos de Pandora
os
rudimentos lúgubres.
Para que
todos governem
Os
prados utopicamente breves,
Que ao
dobrar em ti meus olhos
uma
síntese semiótica
Suplante
fragmentos meus
e lapide
o modo hostil
e o
fruto crítico rompa
Pela
negrura do teu corpo.
Um
ósculo abstrato troco
contigo
e no sono
a
insônia instigo
No
crânio oco.
Carne é
rocha e estigma,
o raio
sigma a liga
A
fraturas e fraudulências.
São
mágoas, do que lembras
do
cântico dos horrores,
arquetípicos
amores,
pois não
pensas.
Feridos
acres não suturam
por
píleas pragas o predando
à
metonímia do ébrio dando
álcool à
minha mente.
Cínico
bardos, escárnios
despudorados,
feixes...
Imageticamente
sinto,
picturalmente
penso,
O pixel
aparentemente enche
me
sentimentalismo!
A fome é
vasão
A vida é
morte
O torque
é um grilhão.
Amamentar
a praga
Para que
cresça ao peito altivo
em
morgue do coração
é célere
objetivo.
Contamina
a palma, a atriz,
a linha
do tempo curva
Elabora
o medo n'alma,
confina
a réstia minha
A
carestia que exala
da
retina dada ao dia.
Minha
amada musa mata
laços
por seus encantos
Tornando
estáticos bandos
nos
filamentos peristálticos
usurpando-os.
E nunca
revoga paliativo efeito
Programado
para, automaticamente,
conjugar
náusea ao ente
epistemológico
prelo.
No
preventório das multidões
perfilam-se
corpos
Um grão
é o esforço
das
revoluções,
o click
é remorso.
Voluptuosa
luz, fragorosa!
Espúrio
intelecto
Virtual
matrimônio
Estéril
útero septo,
Teatro
intrépido
Vampiro
mórbido.
Que
enche a Lua fria
de mais
solidão ainda
alumiando
as salas.
Nenhum
mundo move se, enfim,
custe a
pejar prostrado
perante
as torres de marfim,
da nau
dos naufragados.
A
felicidade em mim
demanda
morrer carmim
pelo
pulso acorrentado,
Devendo
amplo cuidado
Às armas
organizadas
Ao senso
contaminado
Aos
vermes do alastrim.
Para que
sempre minha estrada
estática,
embora ainda
cálida,
não finda,
Seja
contigo nada.
Para que
o bravo seio
Adormeça,
ao enleio
do ópio
e da chama
alienada.
Sarmassofobia II
Inflamado
o peito mau amor clama
Dentre
as náuseas por o sentires breve
ao
toque, extirpar da chama a que escreve
Langores
com a tinta córea, dama.
Do que
oneras, desfiar-se-ão tumores
que pela
vida transparecendo sórdidos
Lembrar-te-ão
os desejos mórbidos
mas não
cruel quanto a dor de amores.
Quando
no vão torpor romperes a alma
Um anjo
ressequido pela treva
Lhe
estenderá pútrida palma.
Pela
mortalha que sôfrego leva
ao peito
por hausto a hasta em trauma
Tu poderás
nada quão deva.
Ao esgoto
A Augusto dos Anjos, com toda humildade
E nessa
ocasião o horário já se foi.
Mais uma
vez este vem à podridão
A qual
rasga n’água e gasta-me a solidão
De todo
esgoto que espera o que há de vir.
Sorrir?
A que doçura devo sorrir?
Se já se
torna fétida água em lama,
Consola-me,
o verme que desse emana,
Mas eu
quero entrar e, todos, sair...
E que
falha desse poderia surgir?
Se esse
verme a mim, no contemplo, sorrira
Se tal
real relação nunca há de existir?
Com
quais males de lamentos me trairia?
Se acima
a constância da dor hei de ouvir,
Mas com
tu, verme, a natura alegria?
Cançãozinha
Se um
pássaro passasse
Carregando
uma flor,
E
pousasse no Sol a se pôr
No
poente de um enlace,
Talvez
de ti gostasse
Mas,
seja como for,
Não há
melhor amor
Que um
amor que se cace!
Sim, no
orgulho te quereria
Do bico
do pássaro, o cantor,
Quereria
pois nua flor
Para
enfeitar-te à poesia.
Quereria
pouca magia
Para
pensar no que compor:
Se um
soneto de amor
Ou o
amor que me espia.
Em decomposição
Hoje
passei a mão nos olhos
E tentei
arrancar uma gota
De água
de lágrima morta
Dos
choros dos tempos velhos. Falhei.
Como
mais uns, os piolhos,
Bactérias,
platelmintos em minha artéria entram,
Na
vagarosidade, meu sangue esquentam,
E os
vermes nos meus espelhos.
Para
decompor a ira da destilação
Prefiro
que queime o ridículo fundo
E todas
as células do coração.
Esse,
que me compreende como moribundo
Nas veras
batidas da poluição
Dos
putrefatos d’onde sou oriundo.
Sequiosa City
Socorram
meus lamentos,
um irmão
caiu no córrego
de seu
próprio Ego
Colhendo
sustentos.
Seus destroços
carrego
Por entre
os unguentos
E os
quatro ventos,
Ainda que
sôfrego.
Serenos
corpos são lentos
Eu temo
meu sossego
Enquanto
que ermo não nego
válidos movimentos.
São
Paulo faz morcego
e cortes
purulentos,
lares
bolorentos
quimeras
que descarrego.
Se aqui
há saneamentos
Com tratos
e a pulso prego,
Àquilo a
que não nego:
Água dos
sangrentos!
Somos todo
desapego,
E tantos
intentos
de
estarmos bentos,
eu
continuo cego...
Sabemos
da morte aos centos
Sabemos se
me alego
genocida
ou se pelego
dos
policiamentos.
Sorrimos
se há arrego
dos salários,
dos aumentos,
das baixas
dos mantimentos
de mim,
que lá não chego.
Sinistros
momentos
num prisco
bárbaro grego,
me
encontre que lhe pego
à
falange dos violentos.
Sequiosa
City, a entrego
Um filho
aos ressequimentos
de alma
e quaisquer alentos
e segrego.
Assunção do espaço breve
Preciso
de coisas belas
Porque vivo,
e tanto me sorvo,
Como num
pacto doloroso
em que
não há remorso, e o gozo
provém
de a tudo provar.
É
necessário desejar todos os dias à Lua
Um galáctico
espelho
Reflexor
da alma.
Correr
no mato ao cântico altivo
na busca
do ser lascivo
de
incognoscível gênero.
Despertar
a loucura no ato
Despudoradamente
ao crivo
Dos inocentes
pasmos,
Religando
a Lua à fonte
Copiando
o sábio.
O amor é
um olho na noite
homólogo
e sinestésico
cético,
a caçar o Sol.
Ilusões de Pravda
Cientificismo,
três mortos
Voltearam
dilacerados aos quatro cantos,
Setecentos
e sessenta mil corpos
no sexo geográfico,
Dos
porcos torturados, tortos,
um pardo
imigra
ao
tráfico.
Encare o
choro, mãe,
Pregue
os pulsos, que embarcam eles
Antes
que a plácida usurpem...
Um
cântico nobre não se cede
dos
seios da paz.
Não
coube a vírgula ao furor:
Setecentos
e sessenta mil corpos
de algo
que pensa,
“contabilizam-se
as crianças”
politicamente
, calcula a bancarrota, um foguete
“quatrocentos
e trinta e oito”
Lançar-se-ão
ao mar de abertos braços
a
estocar a fúria mãe!
A dança
do mundo avesso
Endereça
os endereços
Capitalizando-os
Numa bomba
no jornal
Como a
bala perdida,
Terrorismo
dos trejeitos
Do preto
mau.
Eu sou
caos.
Amaldiçoada morte
Linda
tanto que ainda
pouco é
meu todo canto.
Morte,
que tu és o enlace
tu és o
disfarce
o ofídio
manto,
que
vestes o passo
que mata
o romance
do átrio
de um santo.
Ó morte,
se toda a sorte já lhe convém
Desfavorecido
me encontro a esmo
às
custas do que detém:
eu
mesmo.
A morte,
escarro escuro,
um vão
impuro e lépida dor
equilibrada
no apuro
De dar suor!
A morte,
um rente corte
No raso
da carne!
Um lúteo
inerme,
uma epiderme
à faca em porte.
A morte
é nosso horizonte
tão
perto quão tão distante
de nós,
mas longe
da
consciência.
Morte
que vem assídua
no auge
da eficiência:
completa
inimiga
convexa
pungência
na
cálida fibra,
a madura
essência!
Ó amiga
morte, o canto alarda
por vires
lucrar
errante
eloquência,
inebriar
a alma!
Do luto
tanto é
dual
como
comuto,
tu que
devoras,
deveras,
futuras
auroras
de um
peito astuto.
Tu, que
permeias
pelas
minhas veias
sofre
consigo,
sobretudo.
Que a
pena do tempo então vague
e cesse,
por fim, num soneto
coroando
a morte ao terceto,
como a
dama fúnebre.
Que
vague a morte pelo tempo
por fim,
num soneto que finde
as
súcias do que prescinde
cuidar
que o ciclo se quebre.
O poeta escafandrista
Para o
fundo, imergindo em águas
Cautelosamente
escrevo louco
Engrenando
o enigma obtuso;
Vejo que
também vi, confuso,
Protuberâncias
inextricáveis.
Os ossos
da mão são coisas palpáveis
E os
homens desagradáveis,
De seu
uso tenho só o uso
De
experiências ineficazes.
Mas se
escrevo sinceramente
Me
percebo tal como o ente
Social
dos insociáveis:
Com o ar
puro do sentimento
Me
visito solenemente!
Como,
pois, pode aí ter
Existência
do que é não ser
Substância,
como é o osso,
E vagar
com o que é sofrer
Soçobrando-me
ao prorromper
De
espreitar paixão que não posso?
Visitar-me
implica-me mais
Forte
esforço de meu trabalho
E
braçadas vitruviais
Espelhando
o celeste pálio,
Ressoar-se-á
levemente
Na
palavra proveniente
O fulgor
dos meus ancestrais!
E
expulso, serenamente
Presto, o ente que de repente
Crava as
garras em meus umbrais
Que, na
angústia eternamente,
Vive às
velas do inconsequente
Leitor
que não virá jamais.
Posso
então ressurgir do fundo
Tendo em
mãos liras cordiais
È paciência
que fita o mundo
E tocar
como se apraz
Ao
humano ineficaz,
E pensar
que mudarei tudo...
Triste
sou dos mais tristes mas
Libertado
por poesia!
E me
afogo, como dizia,
Em
pensamentos desiguais,
[pois
sustento a emoção singela
De me
ater e atracar-me nela
Indo a
dentro em mim p’ra não mais.
A dificuldade que me para
Sentimento,
não firamos
A casca
uma do teu crescer,
Qual
trasgo homem:
“A noumenalidade no não ser”,
A lâmina
a qual damos tal respeito.
O sono
no contorno do indireto
Despertar
voraz ataca o peito, carcaça incrustada,
E a
regra é afaça
Cega.
É a linha
da palma
que
desintegra
o
processo da ação psicológica,
o ensaio
natural psicopata.
Da
imobilidade se tatua
A morte
preta revés nua
De
esperanças clorofiladas.
Vem
saltando na descida da escada:
- O
homem é nada!
O homem
é nada
Mais
breve que a vida tua.
No
roteiro da Lua há segredo
Da vida
que escolhe o enredo
Da alma
que continua.
A
composição da poesia
É
convicção da agonia
Que o
homem apenas atua.
Pré-apocalíptico
Intrínseca
volúpia
Infame!
Que d’outros prodígios derrame
As
cascas de cera, que havia
Dor no
sobrepor do dia
Que
nascemos p’ro confronto.
Os
tempos redentos veem
A veia
do sábio saltando
E vão só
surrupiando
Aos que
me leem.
Do Carma
à fronde hermética
Dos
frios calares possantes
Banhei-me,
com a dialética
Do
mouro, do algoz, do errante,
Pois tão
praguejo essa vã cisma
Do raio
que explode o prisma
Do
habilidoso estudante.
Diácono,
não sede fraco
Qual
trato o peito pedante,
Que vejo
maligna à fronte
Os
troques dos floreados
Largando
os acuados
Na
senda, a fenda assombrada
Meados
antepassados.
Forrada a
fama desfigura
Da lama
ao estopim, agora
Namora
as trombetas do féu
Palato,
motriz deste céu
Quebrado,
reconfigura.
A ti teu
flanco à rés doçura!
Rasguei
infernos e seus umbrais
De
largas percas, acres astrais...
O cancro
espanco da tua sutura!
Mas
transeunte me entendo mais
Moribundo
que gostaria
É que o
músculo atroz desfia
Arrecadando
o que lá contenho,
O sangue
rubro que em engenho engendro
E a
dialética do alaúde,
Vão-se
eles todos com minha saúde
Deixam-me
morto, mais mortos sendo.
E vou morrendo e me vou morrendo
A dor
doendo e a dor doendo
Na
armada espada estacada e soa
Meu
suspiro amargurado,
Que,
deveras assassinado,
Prolixo,
o ente do peito perdoa.
O espantalho e o demagogo
O
simpósio tardou e foi caro
O
ingresso
O
otimismo.
Ontem me
espantei à noite
Oriunda
do dia;
O sono
pré-estabelece o que antes era.
Ontem clareou,
dicendi
O homem
do dia na rua:
Osteoporose,
pneumonia e esquizofrenia.
Olhe o homem
que beija
Os
lábios da noite e deixa
O que
dista distantemente.
Olha lá
atrás, que tarda
O bicho,
convicto vem
O
dinheiro na mão.
O homem
comendo uma rato
Onde
todos usam sapato
O tempo
escolhe o que é...
Os
bêbados riem da morte
Ostentam
perigo e sorte
Ornada
ao falecer em pé.
O homem quietamente inquieto
Sugestão de trilha sonora: https://www.youtube.com/watch?v=asPsKy4AjAo
E ele provou tantos ventos...
E ele provou tantos ventos...
Rasgando
os sedentos lábios que estão
A espera
se vão perseguindo na dor,
Confluindo
suas recordações...
Que foi
visitar tantos lares
Colhendo
lugares para tua pintura?
E via em
cada torto pranto
O quanto
foi enquanto
Prendia
a alma
pura.
Mostrou-se
a felicidade e foi
Tanta a
coragem
De sua aventura!
Amar a
mulher da cidade,
Com fiel
castidade,
Sugar
amargura.
Há vozes
Dizendo
Dizendo luxúrias
Gemendo
“Eu toda
Sou
Tua!”
Repletas
de desejo ardente
Despertando
a febre
No
Nu e
Na
Nua.
E
passas, no dia seguinte
Bolando
loucuras
No meio
Da rua
E vês,
pois, por conseguinte
Um homem
Distante
Com ela
E a lua.
Intriga-te
a paz do matiz...
Chorando
sorris a andar
Continua:
Um passo
Sobrepondo
Um passo
Deparas escasso:
Criador,
criatura.
E esta
lhe diz lentamente
O quanto
és o ente
Mais
abandonado.
Embarca
atracado com vento
pela a
Solidão,
Cuspindo-te
ao
lado.
Desgraçada saúde pública
Você viu
o médico?
Torto e
coagido
É falso
e pervertido
Julgando
alheia a imperfeição.
Traz
desgraça aos olhos lá
Que
seduzem um auxílio,
É o
lírio, o pranto, o lírio
Dos seus
prantos a rolar.
Bruta
fora a sentença abrupta,
E o que
lhe retornará?
Sofrendo
desprezará
Sua
profissão, indigno.
A alma
negra é a alma maligna
Revestida
de flor branca,
Ritmando
solavanca
Nos
corações um estigma,
E o
enigma ele estanca.
O médico
preferido
Torto,
no umbral perdido
Não
semeia a semente.
Nas
chagas da rés doente
Minimiza,
simplesmente,
A dor do
amor não tido.
Passe Livre II
À penúria
vocês, malditos,
Que
foram forjando suas almas
Na chama
da falsidade!
Um
covarde como eu não poderia
Implantar-lhes
o órgão loreal.
Logo eu,
escravo livre
Que
consente a dor do povo,
Eu que
nunca desfiei meu pranto em teus colos
Não
preciso os suportar!
Em
minhas costas basta a melancolia
De
Carlos Drummond de Andrade.
O
inconformismo me visitou
E a
frieza de minhas garras,
As que
imploram a presa
Nesses
tempos famintos.
Nada
mais tenho:
Minha
infância diluída, vossa vontade por soçobros e amargura, o refutar do
Romantismo,
Só o
silêncio me apavora
E esse
espasmo libertino...
E eu,
que não sou eu nem Carlos Drummond de Andrade.
Duras
letras
Todas
passarão no corredor que oferta
As
alegrias, as tristezas;
Vai
ficar onde já está a militância morta.
Vai
ficar nos postos de saúde,
Brotar
no prato de comida do menino pobre
Que
passa em minha calçada.
Do homem
vão só passar desgraças e falsidades.
Do baú
oco se enferruja o tesouro,
E vai
passar o tanque de guerra.
Se à
noite cintilam poemas
Devem
não ser de poetas
Do
mundo, que me viu nascer no dia onze de maio de mil novecentos e noventa e
cinco,
Devem
não ser.
Reclamações
fluem ao decoro dos risos,
As
bandeiras repercutem pelos campos de sangue,
A terra
é negra e o homem passa contornando o corredor,
Passam
os mortos angustiados do paraíso
Nos
fragmento das selvas de concreto.
Cantaremos?
Ora, ao
que se vai e vai
Pulsando
por nós!
Eu finjo
e nada mais, e tudo sou e também cego,
Sou
massa e vivo da aorta
Não sou
nada aparentemente posto no busto de decomposição de Carlos Drummond de [Andrade.
Passe Livre I
Há
tempos eu vi o prefeito
No pódio
de sua eleição
Vira
para as caras e encara
A face
da população,
Nas boas
novas da ascensão
Escarras
sintaxe, escarra
Promessas
de perfeição.
Um mês,
foi um mês
E mais
um
E outro
depois,
Depois
outro...
O mantra
político escroto
Relevará
fácil mais três!
Na morte
sutil do mandato
Findou-se
aquele hibernar
Desfilando, tal como um santo,
Por
entre o povo a esperar
Que ele
intervenha assíduo
Na vida
do indivíduo
Que já
também vai a minguar.
O homem
espera sorrindo
O outro,
igual, para lutar,
Pois ele
não quer desfrutar
Da vida desmilinguido;
O homem
é o próprio Senado:
À toa,
tolo e truncado,
Malandro
que segue a corrente.
E o
jovem é pleno doente
Perpétuo,
tal como é o ente
Prefeito,
inanimado.
Coitado
do povo, coitado
Do resto
da vida da gente...
Coitado
do inconsequente
Cidadão
do voto intrincado.
Coitado
do povo inocente
Que era
somente a semente
E
tornou-se sedimentado.
O fim da
história é um fado
Tocado
entre as praias serenas,
Meu pai
viveu com meus problemas
E eu sou
do povo coitado,
Perdendo-me
vou membro a membro
No prato
que soma dezembro
Com
risos do povo, coitado.
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