por
quanto teu canto logrou o desgaste
e ao
tempo ameno se lhe acostumaste
do
tempo, portanto, lhe virá o atino.
Dolentes
supondo-lhe outros olhares
do que
eras contente com tudo do antigo
Que
crépido fogo levara consigo,
Mantém
rés a chama nos teus calcanhares!
É breu a
colheita provinda do vento
Que ao
vil se assemelha também e amiúde
Refrata o
cativo na parte por cento,
dolorosamente
refrata a saúde,
vagarosamente
dilui o talento.
Chorar o
amante na relva a beleza
recruda das
flores, nênia à primavera,
doando-se
à morte no hirmeneu que espera
roubar-lhe
funesto a alma em tristeza.
Não mais
Fornarina discende a riqueza
da lira
que d’antes vibrante cantaste
à vida,
ao mar, ao sonho, à pureza;
Teu
pranto tresanda em torpor e dislaste:
a morte,
a terra, o fundo, a frieza.
Se agora
tão basta a fortuna incessante
Anátema austero
a tudo recrudesce
na
aurora cadente de um fado oscilante,
que pela
virtude em proporção merece
o golpe
contínuo da dor sopitante.
Calado
pobre e glorido do nada
Às
brumas que encolhem seres a pluma,
À escuma
que lembra Andrômeda atada,
À vida
que entre todas é mais uma,
À nau
tenente e próspera afundada,
À luz
que se ofusca da luz suma.
Insípida
esperança jaz acabada,
Embora se
demonstre a plebe expúria,
Impossibilitada
é tua fúria
e tua
atividade exonerada.
Fustigas
agora com teu ventre morno
de ódios
sustém-se para se conter
no
lastro senil da fama a prorromper
a queda
fatal do penúltimo adorno.
E quando
restringes teu leito à deriva
à nau,
doravante se crava em teu seio
nos
poucos instantes que tua alma é viva,
sombras
entrepostas num largo enleio,
vulturino
vulto que em veloz esquiva
delira
errante tenaz devaneio...
Os
baques constritos rugindo constante...
O som da
mortalha roendo-lhe a parte
da carne,
do carma, do amor e da arte
e tu não
é mais que um instante.