segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Ao esgoto


                                                                      A Augusto dos Anjos, com toda humildade

E nessa ocasião o horário já se foi.
Mais uma vez este vem à podridão
A qual rasga n’água e gasta-me a solidão
De todo esgoto que espera o que há de vir.
                        
Sorrir? A que doçura devo sorrir?
Se já se torna fétida água em lama,
Consola-me, o verme que desse emana,
Mas eu quero entrar e, todos, sair...
                        
E que falha desse poderia surgir?
Se esse verme a mim, no contemplo, sorrira
Se tal real relação nunca há de existir?
                        
Com quais males de lamentos me trairia?
Se acima a constância da dor hei de ouvir,
Mas com tu, verme, a natura alegria?

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