segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Amaldiçoada morte

                                                                                 Sugestão de trilha sonora: https://www.youtube.com/watch?v=iW71-sVyMzM

Ó morte, quanto és linda!
Linda tanto que ainda
pouco é meu todo canto.
Morte, que tu és o enlace
tu és o disfarce
o ofídio manto,
que vestes o passo
que mata o romance
do átrio de um santo.

Ó morte, se toda a sorte já lhe convém
Desfavorecido me encontro a esmo
às custas do que detém:
eu mesmo.

A morte, escarro escuro,
um vão impuro e lépida dor
equilibrada no apuro
De dar suor!

A morte, um rente corte
No raso da carne!
Um lúteo inerme,
uma epiderme à faca em porte.

A morte é nosso horizonte
tão perto quão tão distante
de nós, mas longe
da consciência.

Morte que vem assídua
no auge da eficiência:
completa inimiga
convexa pungência
na cálida fibra,
a madura essência!

Ó amiga morte, o canto alarda
por vires lucrar
errante eloquência,
inebriar a alma!

Do luto
tanto é dual
como comuto,
tu que devoras,
deveras,
futuras auroras
de um peito astuto.
Tu, que permeias
pelas minhas veias
sofre consigo,
sobretudo.

Que a pena do tempo então vague
e cesse, por fim, num soneto
coroando a morte ao terceto,
como a dama fúnebre.

Que vague a morte pelo tempo
por fim, num soneto que finde
as súcias do que prescinde
cuidar que o ciclo se quebre.

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