segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Passe Livre II

À penúria vocês, malditos,
Que foram forjando suas almas
Na chama da falsidade!
Um covarde como eu não poderia
Implantar-lhes o órgão loreal.
            
Logo eu, escravo livre
Que consente a dor do povo,
Eu que nunca desfiei meu pranto em teus colos
Não preciso os suportar!
Em minhas costas basta a melancolia
De Carlos Drummond de Andrade.
            
O inconformismo me visitou
E a frieza de minhas garras,
As que imploram a presa
Nesses tempos famintos.
Nada mais tenho:
Minha infância diluída, vossa vontade por soçobros e amargura, o refutar do Romantismo,
Só o silêncio me apavora
E esse espasmo libertino...
E eu, que não sou eu nem Carlos Drummond de Andrade.

Duras letras
Todas passarão no corredor que oferta
As alegrias, as tristezas;
Vai ficar onde já está a militância morta.
            
Vai ficar nos postos de saúde,
Brotar no prato de comida do menino pobre
Que passa em minha calçada.
Do homem vão só passar desgraças e falsidades.
Do baú oco se enferruja o tesouro,
E vai passar o tanque de guerra.
            
Se à noite cintilam poemas
Devem não ser de poetas
Do mundo, que me viu nascer no dia onze de maio de mil novecentos e noventa e cinco,
Devem não ser.
Reclamações fluem ao decoro dos risos,
As bandeiras repercutem pelos campos de sangue,
A terra é negra e o homem passa contornando o corredor,
Passam os mortos angustiados do paraíso
Nos fragmento das selvas de concreto.
            
Cantaremos?
Ora, ao que se vai e vai
Pulsando por nós!
Eu finjo e nada mais, e tudo sou e também cego,
Sou massa e vivo da aorta
Não sou nada aparentemente posto no busto de decomposição de Carlos Drummond de [Andrade.

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